Como funciona o corpo do cachorro

Sendo este site sobre adestramento de cães, seria monótono entrarmos em detalhes com relação a níveis auditivos, acuidade visual e sensibilidade olfativa, tátil e gustativa dos cães.
Entretanto, alguns dados são muito úteis, uma vez que nos propomos uma comparação entre o humano e o canino.
Os órgãos receptores das informações externas, tanto os nossos quanto os dos cães, são semelhantes: olhos, ouvidos, nariz, língua e sensibilidade cutânea (tato).
Esses órgãos trabalham em conjunto e cada um é responsável pela percepção de uma parte do espectro eletromagnético.

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Os olhos percebem a faixa de alta frequência — luz.
Os limites são: acima, o ultravioleta, os raios-x, os raios gama e os raios cósmicos; abaixo, as ondas de calor, rádio e som. A luz, compreendida entre a cor violeta e a vermelha. Depois temos o infravermelho, que são as ondas de calor percebidas pela sensibilidade cutânea. Abaixo há, tanto para nós quanto para os cães, uma parte do espectro que não é percebida pelos órgãos dos sentidos, que é a faixa das ondas hertzianas de rádio, televisão e frequência modulada. Depois vêm as ondas elétricas, que também são percebidas pela sensibilidade cutânea. Mais abaixo estão as ondas sonoras que, novamente, são percebidas tanto pelos homens quanto pelos cães. O órgão receptor agora é o ouvido.

O olfato é um sentido pouco desenvolvido no humano e bastante desenvolvido nos cães. As fossas nasais são revestidas de núcleos aromáticos que percebem, no momento em que são estimulados pelo contato de partículas desprendidas de cada objeto, estímulos que são transmitidos ao cérebro por impulsos nervosos eletroquímicos, através das células nervosas. Essas sensações são codificadas no cérebro por aromas.

O paladar também é percebido aproximadamente da mesma maneira que o olfato. A língua é dotada de papilas gustativas que fazem o mesmo papel dos núcleos aromáticos: percebem estímulos provocados pelo contato de objetos e os transmite, pelo mesmo sistema, ao cérebro, que, por sua vez, os codifica em paladares.

Por que os sentidos são mais ou menos desenvolvidos?

A resposta está no nível de interesse que cada assunto possa despertar no indivíduo.

O nosso sentido-chefe, se assim podemos chamar, é a visão. O humano reconhece as coisas pelas suas formas e pelas suas cores. Nós conseguimos decodificar o "preto e branco" de uma fotografia e formar uma imagem do que seria a pessoa. A nossa imaginação, como o próprio nome diz, é formada por imagens. Nós formamos uma imagem da pessoa bonita, da pessoa feia, da pessoa que está longe, da pessoa que morreu, e essa imagem provoca uma sensação de saudade. Pelos estímulos visuais, o humano se emociona e tem sensações, sente desejo, fome e se enoja.

O segundo sentido na ordem de importância é o tato. No escuro, o homem se guia por ele. Sempre que o homem não pode ver, utiliza o tato para perceber as formas. Existem pessoas que não sabem ver só com os olhos, precisam tocar os objetos para completar suas sensações.

Em terceiro lugar vem a audição. É por intermédio dela que percebemos se vem vindo gente, qual foi o talher que caiu na cozinha, o tamanho do bicho que se aproxima, se o trem está longe ou perto, se o carro dobrou a esquina ou passou direto. Pelo ronco do carro você reconhece quem chegou ou se* o barulho é desconhecido. Com um barulho estranho, isto é, que ainda não foi identificado, o homem se assusta e pergunta: "Que barulho foi esse?" Pela audição o humano consegue reconhecer outros animais (Oh, isso é barulho de rato!) e outras pessoas. Um cego que, por deficiência visual, desenvolve mais a audição torna-se capaz de reconhecer todas as pessoas com quem convive pelo ruído dos passos.

Em quarto plano está o olfato. Com ele se reconhece a comida. Pelo cheiro se consegue avaliar o gosto até o ponto de confundir cheiro com gosto. Quantas vezes você já disse que uma comida está com gosto de barata sem nunca ter experimentado uma? O olfato estimula os outros sentidos, quando você se lembra da infância por ter reconhecido um cheiro que, na época, não deu importância.

Em quinto e último lugar está o paladar, que tem uma importância relativa para o nosso estudo. O paladar também estimula os outros sentidos e, por coincidência ou não, nos caninos também fica em último lugar, se considerarmos somente cinco sentidos.

A ordem de importância humana para os sentidos é:

1) Visão; 2) Tato; 3) Audição; 4) Olfato; 5) Paladar.

A dos cães é:

1) Olfato; 2) Audição; 3) Visão; 4) Tato; 5) Paladar.

O olfato — É o primeiro dos sentidos utilizados pelos cães. Recém-nascidos, ainda de olhos e ouvidos completamente fechados, os cães já têm capacidade de encontrar as tetas de sua mãe.
No ritual de reconhecimento, os cães cheiram mutuamente os sexos. A não permissão de um dos dois redunda, sempre, em briga.
É pelo olfato que os cães reconhecem as coisas e as pessoas. Certa vez, quando usávamos barba, tentamos pregar uma peça nos cães indo ao canil sem barba, cinco minutos após tê-los visitado com barba. Os cães não deram a menor importância e nos reconheceram imediatamente. A forma externa não lhes disse nada.
Atavicamente, esse sentido é, para os animais, de importância vital, pois é a principal ferramenta de caça.
Quantas vezes já vimos o nosso cão cheirar o ar. Nós também o fazemos, só que não nos damos conta. Por exemplo: você reconhece cheiro de chuva, cheiro de nené, cheiro de rosas, cheiro de mofo, cheiro de tijolo velho. . . ou muitos outros cheiros que você deve estar lembrando agora.
Os cães têm uma capacidade infinitamente maior de reconhecer os objetos e os outros seres pelo olfato. Para fazermos uma ideia da diferença, a nossa percepção olfativa é 10% da percepção olfativa canina. Um cão é capaz de seguir uma trilha feita com uma gota de amónia dissolvida em 1000 litros d'água.

A audição — Os cães nascem com os ouvidos fechados e sua audição começa a se desenvolver a partir do décimo dia de vida.
Os cães, sabidamente, têm o sentido da audição bem mais desenvolvido do que o humano. Os ultra-sons, quase inaudíveis pelos humanos, são nitidamente perceptíveis pelos caninos. Você conhece os famosos apitos para chamar cães. Só que nós, humanos, também escutamos, mas se ouvirmos um apito desses inadvertidamente, ele não terá a menor importância. Para os cães, entretanto, eles são muito fortes. Você já prestou atenção num filhote que começa a chorar... O som é agudíssimo e fere os ouvidos da mãe a um quilómetro de distância.
O aparelho auditivo dos cães também é diferente. Eles têm uma concha acústica capaz de se direcionar, como uma antena de radar procurando a direção do som. Enquanto nós precisamos virar a cabeça, os cães, imóveis, movimentam somente a concha acústica.

A visão — De outra vez, fomos ao canil vestindo um casacão parecido com a capa do Drácula e que, aberto, formava uma silhueta semelhante a um morcego gigante. Fizemos a pantomima do macaco com uma movimentação completamente diferente de tudo o que estavam acostumados a perceber e eles não nos reconheceram. A percepção pela visão é lenta. Não é instantânea.
Concluímos daí que, quando os cães utilizam a visão para perceber, se ligam muito mais no movimento do que na forma da figura. Eles reconhecem também pelo gesto e pelos modos.
Uma fotografia nada significa para um cão. Ele não reconhecerá uma forma gráfica em hipótese alguma. Uma imagem no espelho não tem cheiro e os movimentos são iguais aos do cão refletido. Passado o susto do primeiro impacto, no momento em que o cão cheirar o reflexo, nunca mais se importará com ele. Existem cães que assistem à televisão por causa do movimento.
O sentido da visão é mais utilizado durante uma luta, na decodificação dos rituais de submissão e apaziguamento.

O tato — Tem uma importância pequena para os cães em relação aos outros sentidos, assim como o paladar. O sistema tátil dos cães, gatos e outros animais é mais dirigido aos pelos. Os animais têm células táteis junto à raiz dos pelos. Basta um leve toque nos pelos dum cão que dorme e ele imediatamente se levantará.
O tato funciona como ferramenta auxiliar do olfato. É que o cão precisa às vezes percorrer 500 a 600 m com o focinho quase colado ao chão, sem bater. Como ele consegue? É aí que entram em ação os duros e longos bigodes, que os handlers americanos cortam, achando que os cães ficam mais limpos e elegantes. Esses bigodes funcionam como antenas e, quando tocam o solo, significa que está muito perto. Então, instintivamente, o cão afasta o nariz do chão.

O paladar — É tão ou mais variado do que o humano. Apenas o interesse pelas comidas é diferente. Embora os cães sejam carnívoros, se se habituarem, conseguem se deliciar com sorvetes, pudins, tortas e outras guloseimas humanas.
Os sentidos tanto dos humanos quanto dos caninos, permanecem em semivigília durante o sono. A grande diferença entre o despertar de um cão e de um ser humano é simples: nós, por causa dos relógios, dos deveres e das tradições, nos obrigamos a dormir à noite e a trabalhar e a funcionar durante o dia. Quando vamos dormir estamos muito cansados e o sono fica profundo. Os cães conseguem, com facilidade, dormir às 8:30h da manhã, às 14:18h, às 21:00h ou às 2:00h da madrugada, assim como não se sentem obrigados a ficar acordados durante o dia.

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