Os meios com os quais os cães se comunicam são: a voz, a postura, a mímica, os excrementos e a urina. Para compreender, o cão utiliza a visão, o olfato, a audição e a capacidade de percepção extra-sensorial (ESP - Extra Sensorial Perception).
O homem se serve da visão, da audição, do raciocínio e da formação cultural para perceber. A voz, a mímica, o prémio, o castigo e o raciocínio para se comunicar com os cães.
Acontece que o homem não preparado utiliza o raciocínio fundamentado em parâmetros humanos, enquanto o cão age sempre de acordo com seus instintos.
Mesmo que o cão esteja capacitado a aprender a mentir, adotar táticas estratégicas e disfarces, na agressão por defesa ele tem um comportamento ético muito claro e correto. Um cão nunca se aproxima com ares amistosos para poder morder. Se ele tem intenção de morder, demonstra-o muito antes de consumar o ato. Os mecanismos de defesa do cão são acionados por instinto no momento em que ele se vê ameaçado.
As reações do cão não sofrem modificações por interferência dum raciocínio; portanto, não podem manifestar-se por um comportamento imprevisível. O que pode acontecer é o homem ser apanhado de surpresa, sem saber que teria provocado um estímulo ameaçador. Pura desinformação.
Os cães já nascem com um ESP bastante evoluído a ponto de procurarem sozinhos as tetas da mãe, minutos após o nascimento. Eles desenvolvem rapidamente essa percepção e tomam conhecimento dos gestos atávicos que lhes permitem a percepção/comunicação entre si de modo a neutralizar, em combate, as armas adversárias.
Com o latido o cão transmite a satisfação, o temor, a discordância e o alarme. É um sinal com o qual, pela entonação, ele transmite suas sensações aos seus semelhantes e consemeIhantes.
Essas sensações podem ser provocadas por qualquer acontecimento estranho, pela percepção do perigo iminente ou por um convite à participação. São sinais mais facilmente compreendidos pelo homem, dada a sua semelhança com os sinais vocais.
Para um cão, qualquer acontecimento que evoque o atavismo selvagem é motivo de alarme: um gato que passa, um homem que corre, um carrinho de mão que se movimenta etc.
É muito comum observar-se que, dentro do seu automóvel, um cão late para outros cães, para uma vaca ou um cavalo, para caminhões e ônibus que passam em sentido contrário. O que não é comum é o homem perceber que o ronco do motor dum caminhão ou dum ônibus passando em sentido contrário tem exatamente o mesmo som de outro cão que rosna para atacar.
O latido festivo, acompanhado de corridinhas em volta, é usado pelos jovens cães como um convite à brincadeira e aos folguedos. Esse tom de latido é facilmente reconhecível e não contém conotação agressiva ou provocativa alguma. Nessas brincadeiras, o cão poderá até morder, por excitação, mas logo se aperceberá e abandonará a mordida, que será sempre involuntária e delicada. Brincadeira de luta acaba sempre com alguém machucado.
Os cães podem latir por medo; nesse caso, as orelhas estarão voltadas para trás e para baixo, os pelos ficam eriçados e eles recuam quando latem. Esses cães são perigosos no momento em que o agente ameaçador se volta de costas. Se a ameaça é muito grande o cão poderá, vendo-se em perigo de vida, lançar-se ao ataque numa derradeira atitude de vida ou morte.
A utilização do latido é a tentativa extrema para convencer o inimigo da retirada. Diz-se que cão que late não morde.
O rosnado é uma maneira dele dizer que não está gostando da situação e também que, se continuar, vai morder.
Entretanto, existem cães cujo rosnado tem outros significados. O Rottweiler é uma dessas exceções. Tendo boa convivência com a raça, podemos perceber que, para o Rottweiler, o rosnado significa também o oposto: "Estou gostando muito, continue ... e não pare". Para esses cães, tanto o rosnado como o latido "furioso" pode significar, ainda, "Não vá embora porque eu não quero, fique mais um pouco... isto é uma ordem".
O Rottweiler tem fama de ser muito agressivo, porque é incompreendido. Falta, nas pessoas, a coragem de conhecê-lo mais profundamente e sempre interpretam o rosnado de acordo com os parâmetros conhecidos e diagnosticam: o Rottweiler é um cão que ataca o próprio dono. Nesse momento passam a temê-lo, sem declarar abertamente, e a ensinar-lhe que "respeitam-se" as suas vontades. Pronto! O Rottweiler assume a liderança e, sem querer, desse momento em diante ensinamos que é ele quem manda. Um dia, quando quisermos mostrar quem manda de verdade e contrariarmos uma dessas "vontades", ele fatalmente morderá.
O cão que late festivamente jamais tem a intenção de morder, a não ser que tenha sido iniciado no treinamento de guarda e defesa. Nesse caso, os proprietários devem manter seus cães confinados até que termine o curso.
Durante o aprendizado, os cães associam a prova de coragem, o ataque, a um jogo de luta do tipo judô ou caratê e gostam muito. Eles sentem prazer em brincar de luta desde filhotes. Quando veem o auxiliar de campo (helfer, figurante, cobaia, sparring etc.) começam a latir festivamente e, no entanto, só têm a intenção de morder, mas morder pra valer.
Fora do campo de treinamento, os cães condicionados dessa maneira podem atacar uma criança que, inadvertidamente, pegue um bastão para lutar espada ou, ainda, pessoas que gesticulem com os braços, que corram, que gritem ou que façam movimentos que evoquem a imagem das aulas de ataque.
Um cão somente estará seguro para exercer as funções de guardião no momento em que concluir o curso de guarda e defesa. Interromper o curso ou responsabilizar um cão com o treinamento incompleto pela guarda e defesa dum território pode ser desastroso.
O uivo é, para os cães, o meio de comunicação de massa com a matilha. É o sinal que o lobo líder utiliza para reunir a alcateia. No momento em que um começa a uivar, todos respondem. Não se trata, de modo algum, de maus presságios ou de angústia, nem sequer de sofrimento.
Outro meio de comunicação é a urina. Esta tem uma infinidade de significados, entre os quais está a pura necessidade fisiológica.
Os machos urinam para demarcar os limites de seus territórios, como os homens fazem riscando uma linha no chão, colocando uma cerca ou um muro. Urinam também sobre a urina de outros machos para desafiá-los. Urinam, ainda, sobre a urina das fêmeas para convidá-las ao jogo e, ao mesmo tempo, para destruir os odores que provocariam o apetite de outros machos. Às vezes, para demonstrar superioridade, urinam sobre outros machos, numa atitude de desprezo. Os cães, tanto machos quanto fêmeas, urinam também por prazer e excitação. Já vimos casos em que os cães urinaram sobre os próprios donos. As fêmeas também ritualizam a urina. Urinam sobre a urina de outras fêmeas, em árvores ou postes, até com atitudes masculinas, quando no cio, para deixar pista.
Curiosamente, todos os machos urinam sobre pneus de automóvel. A razão é muito simples: o odor dos pneus é exatamente igual ao da urina de outro macho.
Além das necessidades fisiológicas, as fezes têm uma conotação de desaforo, má-criação e pirraça (ética humana). Há cães que ficam tão aborrecidos porque seus donos saíram sem convidá-los, que defecam sobre a cama do casal.
Nós temos o hábito de falar com as crianças imitando o seu "tatibitati". As crianças, que aprendem imitando os adultos, acabam aprendendo essa linguagem. Todos os animais aprendem pela experiência e pela imitação de semelhantes mais experientes.
Com a mesma tentativa de imitar o filhote para "falar" com ele, costumamos fazer a vozinha fina, imitando seu choro, linguagem essa que corresponde às manhas dum bebé para se comunicar com sua mãe. O cãozinho, entendendo, por ser essa a sua linguagem, que estejamos sofrendo, fica doído e começa a lamber para aliviar a dor que imagina estejamos sentindo e nós; humanos, adoramos isso, interpretando que o nosso cãozinho nos ama desesperadamente. Às vezes, no auge do nervosismo, o filhote tem seu esfíncter uretral relaxado e urina. Urina também por medo.
O comportamento do cão diverge muito do comportamento humano nesse aspecto. A saudade é um sentimento doloroso, sofrido, que o humano cultiva. Quando nos separamos, por longo tempo, duma pessoa amada, dizemos que sentimos saudades. No momento do reencontro, em vez de demonstrarmos toda a alegria ao rever a pessoa amada, demonstramos o quanto sofremos pela sua ausência. Assim, concluímos que amar, em vez de representar o prazer imenso duma companhia, representa o imenso sofrimento quando a pessoa não está. Por essa razão, os humanos brigam tanto: excita muito mais o sofrimento duma briga, a separação e, depois, o reencontro chorado, sofrido e angustiado, do que a paz dum amor seguro e confiante.
Quantas vezes ouvimos: "Chorei de alegria", ou então, "Adorei aquele filme, chorei à beça!"
O prazer de ver o cãozinho sofrendo e chorando, até urinando, insere no animal um vício humano, que acaba por alimentar uma neurose.
O ouvido dos cães percebe um espectro de frequência sonora muito mais amplo do que o nosso. Gritar com o cão é, praticamente, admitir que ele não ouve quando falamos baixo. O tom apreciado pelos seus sensíveis ouvidos é a gama de tons suaves e graves. Os cães apreciam imensamente as músicas suaves.
Certa vez, em março de 1986, quando nossa cadela, Daphne vom Farbendorf, teve sua ninhada, estava muito nervosa* e não parava dentro da caixa de parto, porque nosso canil estava em obras. Pegamos nosso radinho FM de pilhas e o colocamos em seu canil tocando música clássica e, em duas horas, ela já estava amamentando.
Quem fala alto com os cães e os comanda militarmente obtém efeitos de frustração e uma obediência muito limitada e tímida.
O cão percebe o nosso estado de espírito pela mímica e pelo tom de voz com que falamos com ele. Um dia um cliente nos contou que sabia quando seu cão tinha feito arte só pela maneira com que se aproximava quando ele o chamava: cabisbaixo, tenso, tremendo e urinando. Na sua fantasia, esse cliente jurava que seu cão tinha agido de caso pensado. Na realidade, o que o cão já sabia era que aquele tom, aquela maneira de chamar, era presságio duma boa surra.
Dar a patinha também é uma comunicação amistosa, pacífica e uma maneira de solicitar paz.
Finalmente, uma fantástica fonte de informações para que possamos perceber o estado de espírito dum cão é sua cauda: quando está alegre, ele a balança leve como uma pluma. Alegremente excitado, balança-a rápido. Aflitivo, a cauda vibra tensa, batendo em tudo o que está por perto. Em repouso, denota tranquilidade. Cauda levantada, cão em atenção. "Rabo entre as pernas" já virou dito popular.
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