Alguns dos mais clássicos estudos sobre adestramento e comportamento canino mostraram, depois de numerosas pesquisas, que:
a) os medos condicionados manifestam diversas características de outras respostas condicionadas classicamente;
b) o medo servirá de motivação para a aprendizagem;
c) a redução do medo funciona como estímulo reforçador.
Um cão de guarda agride porque tem medo. Ele aprende a se defender agredindo o agressor. Os macacos babuínos, que são nômades e peregrinam em formação militar, colocam os mais medrosos no círculo mais externo da formação. Por serem covardes, são excelentes vigias e muito atentos.
Obediência, uma questão de hierarquia
Uma vez aceita a estratificação hierárquica através das cerimonias de submissão e apaziguamento, está implícita a obediência em termos rudimentares.
Quando um cão aceita a estratificação hierárquica e admite seu plano inferior ao do homem, deixa claro que teme e respeitará seu arsenal de estímulos negativos e deseja receber os dotes que demonstramos possuir para obter essa submissão.
Quando um cão aprende um exercício, não está implícito que ele o executará sob comando. Existe um abismo entre o aprendizado e a obediência.
O aprendizado é desenvolvido pela capacidade do cão em resolver os problemas que lhe são apresentados e uma das soluções é a obediência.
No nosso canil de treinamento, temos alguns clientes que pagaram o curso, assistiram à demonstração do aprendizado, mas não conseguiram absolutamente nada com seus cães.
Um cão poderá saber executar todos os exercícios aprendidos, mas não obedecer a uma pessoa que não considera hierarquicamente superior. Da mesma forma, um cão poderá querer obedecer a seu líder mas, porque não aprendeu, não saberá como fazê-lo. Os cães de temperamento firme são, naturalmente, líderes na sua espécie. Se forem do grupo de guarda e utilidade têm que possuir qualidades de liderança mais específicas.
Os animais jamais obedecem a outros animais no conceito militar de obediência, "Senão!". A obediência entre os animais é primária: "Afaste-se!" ou, "Pode aproximar-se!". Os cães tentam de todas as formas imitar seus líderes, daí se parecem tanto com seus donos.
Quando se compra um filhote ele ainda é dependente e obviamente submisso, pois depende dos favores da mãe: leite, calor e higiene. Esse filhote chegará à maturidade sexual, ocasião em que o terceiro dos instintos primordiais se desenvolve. Nesse momento o cão deverá estar bem servido de amor e carinho. Seu apetite sexual só se apresentará diante duma fêmea em estro, se for macho, e durante o estro, se for fêmea.
É possível, entretanto, que se esse amor e esse carinho forem exagerados o cão os confunda com gestos de submissão e arrisque conquistar a liderança. Se conseguir, ficará descartada a possibilidade de obediência enquanto perdurar essa situação hierárquica.
Rituais e cerimonias de submissão e apaziguamento
A autoconfiança é fator decisivo para que a submissão não se efetue por medo. O fato de estar fora ou dentro de seu território modifica o comportamento com relação à segurança e autoconfiança. Essa é uma das razões que nos leva a aconselhar que se trabalhe o cão variando sempre os territórios.
Entre os animais vigora um código ético muito claro: o vencedor, autoconfiante, nunca agride diante da submissão e da rendição. Nós utilizamos esse código ético para ensinar o cão a suspender a agressão diante da rendição do bandido.
Entre os cães o reconhecimento da superioridade do adversário se dá pelo oferecimento do ventre ou do pescoço. Baixar a guarda, para os cães, é afastar as armas, é virar os dentes na direção oposta.
Quando um cão chega urinando e se vira de barriga para cima, nós o chamamos carinhosamente de "sem-vergonha" e lhe fazemos um carinho na barriga; achamos muito engraçado e interpretamos o fato como se ele estivesse pedindo carinho.
Ele recebeu, com aquela atitude, um estímulo positivo. Depois da terceira vez ele estará pronto a se submeter a qualquer pessoa que lhe ofereça um cafuné na barriga. A coçadinha premiou a submissão e a rendição. Ao contarmos esse segredo simpático a uma visita, ela vai querer conferir para, também, achar engraçadinho. .. Seu cão de guarda estará acabado.
Outro sinal de submissão é a lambida. Podemos observar que, quando um cão propõe apaziguamento a outro, começa a lamber-lhe a cara e, muitas vezes, o sexo. O filhote toma essa mesma atitude com relação aos donos.
Nós, que somos os "sem-vergonhas", adoramos essas lambidas, sem nos darmos conta de que o excesso de submissão tira do animal toda a sua autoconfiança e o torna extremamente inseguro e dependente.
A fuga também é um reconhecimento de superioridade e, portanto, uma atitude de submissão. O treinamento dum animal fujão deve ser muito cauteloso, pois estaremos constantemente correndo o risco de torná-lo supersubmisso.
O simples fato de baixar as orelhas é um sinal evidente de submissão, que pode ser seguido pelo total abaixamento da cabeça e o olhar de soslaio.
Basta que o cão aceite a nossa superioridade para que concorde, imediata e tacitamente, com nossos termos. A submissão pelo terror não é absolutamente necessária. E preciso que confiemos na nossa capacidade de persuasão e nos nossos argumentos (comida, afeto e proteção). É necessário, também, que creditemos um voto de confiança ao nosso cão, acreditando que ele vai nos obedecer. Os treinadores americanos dizem que "cão e homem devem formar um time e trabalhar juntos”.
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