As palavras significam para o cão aproximadamente a mesma coisa que o latido para nós, com uma desvantagem: nós temos a intenção e nos esforçamos para compreender a linguagem deles. Os cães não têm a intenção de compreender a nossa linguagem e, portanto, não se esforçam para tal. Não importa se a língua é de origem alemã, inglesa, portuguesa ou tailandesa.
Para termos uma ideia das dificuldades que um cão tem para perceber o que estamos tentando explicar quando apresentamos um exercício, por exemplo, buscar um objeto, trazê-lo e entregá-lo em nossas mãos, imaginemo-nos na Cochinchina tentando explicar a um cochinchinês o que é subterfúgio.
Assim como os cursos de inglês mostram um livro para depois explicar: "This is a book", primeiro vamos mostrar as posições, os movimentos e os exercícios (sem comando), para depois estabelecermos as associações dos nomes (comandos) com as posições, os movimentos e os exercícios.
Quando um cão já sabe o que é sentar, então podemos explicar que essa posição tem o nome de "sit!", "sitz!", "Senta!" ou qualquer outro. O instrutor poderia perfeitamente escolher um vocábulo especial para cada cão ou, até mesmo, inventar um. O cão desconhece qualquer idioma.
No trabalho de associação das tarefas com os comandos teremos que utilizar o bom senso, para evitar, por exemplo, que se chame o bichinho com três ou quatro palavras de comando, confundindo-o cada vez mais: "Dick! Vem cá! Junto! Aqui!".
O tilintar das chaves ou o ruído da coleira tem um significado muito maior para o cão do que qualquer palavra de comando. A palavra "Vamos!", que usamos normalmente quando vamos sair, tem uma importância tremenda no vocabulário canino.
É importante observar que os animais (inclusive o homem) aprendem com mais rapidez e com mais facilidade os assuntos que mais os interessam, o que desmitifica as atitudes não interesseiras dos cães.
Desse modo, o primeiro passo para iniciarmos um bom adestramento é interessar o nosso aluno pelo trabalho, fazendo com que ele goste de ser treinado.
O passo seguinte é construir uma linguagem compreensível e igualmente interessante para o animal.
Nós, que gostamos de animais, já tivemos, sem dúvida, a oportunidade de observar como eles percebem os nossos humores: seja pela maneira de pronunciar as palavras, seja pelo volume ou pela entonação da voz, seja pela mímica, gestos, ritmo de comportamento, tranquilidade ou agitação, nervosismo etc.
Escolher uma palavra para um comando e determinar de que modo essa palavra deverá ser pronunciada é uma tarefa técnica e não uma questão de gosto, como escolher um nome para nosso cão. A maneira de emitir um comando terá que combinar com uma posição (parado, sentado, deitado etc.) ou com um movimento (em frente, pula, busca etc). É como escolher um símbolo sonoro para uma forma geométrica.
Para explicar melhor esse assunto, vamos utilizar um pouco da teoria gestaltista (Berlim 1926 — Oscar Schlemmer).
Imaginemos duas formas geométricas inventadas e vamos tentar associá-las a duas palavras também inventadas. Essas palavras têm um som ao serem pronunciadas. Som e forma estão intimamente ligados como no "Ziriguidum", ou então "Bum-bum-paticumbum-prucurundum".
Se tivermos que escolher um dos dois nomes para a forma A e o outro para a forma B, não teremos dúvida de quem tem cara de quê?
Para determinarmos uma palavra correta para um comando, teremos que recolher vários dados: a finalidade do exercício, a velocidade do movimento, o tempo que o comando deverá ter de resposta; o nível de atenção em que o cão deverá estar no momento de perceber o comando etc. De posse desses dados, e talvez alguns adicionais, poderemos determinar a palavra mais adequada, o tom certo de proferi-la e a maneira correta de pronunciar cada comando.
Tornemos, para exemplo, o comando para sentar. É um movimento suave que o cão deverá executar normal e naturalmente. Escolhemos a palavra "sitz!" (zitss) que, em alemão, quer dizer assento; portanto, para nós, está relacionado, de alguma forma, com a posição; como também porque essa palavra, ao ser pronunciada, desliza na boca mais ou menos da mesma maneira como o cão se movimenta para sentar-se. Deve ser pronunciada em tom coloquial, em volume baixo. Acho oportuno lembrar que a audição do cão é aproximadamente cinquenta vezes mais apurada do que a do homem.
A palavra escolhida para o comando de deitar necessitou de outro critério: deitar é um movimento no qual o cão terá que se achatar no chão como um tapete e com um movimento quase instantâneo. Escolhemos a palavra "platz!" (platss) que, em alemão, significa lugar, praça, mas que soa como um barulho de alguma coisa que se achata no chão ao cair.
O comando "beiss!" (báiss), em alemão, morda!, deve ser emitido duma terceira e totalmente diferente maneira. O critério de escolha terá que levar em conta que você poderia estar numa situação de invasão de domicílio na qual o invasor teria que ser apanhado de surpresa. Se você gritasse uma ordem de comando, ele, provavelmente, fugiria, se esconderia ou se defenderia e até poderia matar seu cão.
O comando de ataque deve ser emitido baixinho e, se possível, sussurrado no ouvido do cão, ou passado através dum gesto silencioso e curto com a mão.
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